segunda-feira, 28 de maio de 2012

A carta ao Luar



Estava á beira da janela da sala, a olhar para a rua, onde os cães passeavam pelo jardim e as pessoas corriam pelo largo da igreja, encostado na poltrona de pele macia já velhinha, com uma escrivaninha ao lado e outra poltrona igualmente velha a frente mas vazia. Olhei em volta da sala onde havia fotografias a preto e branco em volta das paredes e parei o olhar em frente á gaveta da escrivaninha, tirei de lá uma carta antiga. Abri a carta, respirei fundo e comecei a ler:
“Querido Bernardino,
Estava hoje no meu quarto a pensar como haveria de escrever esta carta, visto que é a primeira depois do nosso encontro na lagoa das 7 cidades, naquele luar de meia-noite, ao som do gira-discos de Mozart no dia 15 de Julho de 1920.”
Suspirei, caiu-me uma lagrima do olho esquerdo e continuei a ler,
“Quando a tua mão deslizou pela minha como uma pena a pairar o meu coração bateu mais forte, como se fosse sair, contei a minha aminha ju e ela explicou-me que é amor, não podia acreditar que tu, Bernardino, pudesses ser o meu amor, o meu Romeu e eu a Julieta. Não sei bem o que dizer nesta carta especialmente quando tu estás em Africa tão longe de mim.”
Percorri mais uma vez o olhar pela sala e pousei a carta, fui buscar um copo de água e peguei novamente nela, não comecei logo a ler, pus a tocar o disco de Mozart tal como nas 7 cidades, tal como naquela noite, ao luar onde dizem que uma princesa e um príncipe choraram e se uniram. Prossegui.
“Quando, no primeiro passo de dança tu me puxaste para ti e eu deixei o meu corpo ser levado, olhei para os teus lindos olhos, castanhos, já com 20 anos com cabelo cinzento escuro de fato e gravata e olhos castanhos, agarraste-me agora com mais força e abraçaste-me inclinaste-me para trás e com suavidade os teus lábios tocaram nos meus. Depois da ceia e do ultimo copo de champanhe vim para casa a cantarolar, a pensar em ti e sonhei contigo. E agora que estás em áfrica arrependo-me de não te ter dito que te amava, que era capaz de deixar a casa do meu pai para ir para Angola contigo de avioneta e fugir. Mas agora só me resta dizer que te amo e que se o mundo acabasse amanhã vivia esse ultimo dia na lagoa das 7 cidades ao som de Mozart com uma pessoa, Bernardino Ramos, tu meu querido.
Da tua querida Amélia”
Levei a carta a face para lhe sentir o cheiro, mas este já se tinha perdido pela gaveta, já só cheirava a madeira e papel antigos. Guardei novamente a carta fechei a gaveta pousei o copo de água e olhei para o calendário pendurado na parede, 15 de Julho de 2000.
Mariana Ramos Maia